4K – A Confusão Continua
Não bastasse a confusão causada pelo formato profissional 4K, o mercado de equipamentos para consumo vende gato por lebre quando se trata de 4K. Você, com certeza, deve ter ouvido falar das TVs de 4K que estão chegando no mercado. O marketing é enorme e o formato promete revolucionar o mercado. Só que tem muita coisa que não está sendo dita sobre o 4K doméstico.
Conhecido também como Ultra HD, o formato doméstico, na verdade, não tem nada a ver com o formato 4K definido pela DCI (Digital Cinema Initiatives), que é o formato profissional adotado para o cinema digital.
Se você está com medo de seu equipamento 1080p atual ficar obsoleto, da noite para o dia, pode ficar tranquilo. E investir em 4K agora para não ficar com seu equipamento obsoleto em um futuro um pouco mais distante também não faz muito sentido. Afinal, a tecnologia muda a cada poucos meses e nada garante que, daqui a alguns anos, seu equipamento já não esteja defasado independente de ser 4K.
Isso acontece até mesmo com equipamentos HD. Veja o caso do HDV vs. HDSLRs. Ambos formatos 1080p, mas com uma diferença da água para o vinho. Saiba sobre 4K nos artigos anteriores: parte1 e parte2.
Mas vamos começar falando de números. O formato doméstico deveria ser chamado somente de Ultra HD e não de 4K. E é isso que a CEA (Consumer Electronics Association) tem tentado fazer. Mas fabricantes como a Sony, que se manifestou oficialmente sobre isso recentemente, insistem em utilizar erroneamente o termo 4K para confundir o consumidor. Acontece que o formato doméstico Ultra HD tem uma resolução de 3840 x 2160 em 16:9. Se o formato chamado Full HD tem 1920 x 1080 e é chamado de 1080p, muitos acham que o Ultra HD deveria ser chamado de 2160p. Além disso, o verdadeiro formato 4K profissional tem uma resolução de 4096 x 2160 em 1.9:1. Ou seja, tem 246 pixels a mais de resolução vertical e uma imagem mais comprida lateralmente.
Tudo bem se alguns acham que é um preciosismo não chamar de 4K um formato que tenha uma diferença relativamente tão pequena de pixels. Mas seria o mesmo que chamar Full HD de 2K. Ninguém vende televisores domésticos como 2K, apesar da diferença de resolução ser relativamente parecida.
Mas vender uma TV de 84 polegadas por US$ 25.000,00 parece ser incentivo suficiente para a Sony insistir em chamar sua linha Ultra HD de 4K. Afinal, isso também ajuda a vender suas câmeras profissionais pois a nomeclatura confunde não só os consumidores como também os profissionais. Com uma TV “4K” chegando ao mercado, o profissional acredita que precisa investir logo em equipamentos 4K para não ficar para trás. Só que ainda existe mais confusão por trás disso. Testes práticos e de laboratório provam que uma pessoa com visão absolutamente perfeita só consegue ver alguma diferença entre 1080p e Ultra HD em uma tela de 84 polegadas se estiver sentada a a 1 metro e 67 centímetros da tela. É óbvio que ninguém senta tão perto assim de uma TV desse tamanho. A distância típica que um espectador senta de uma TV de 40 polegadas é de 2 metros e 75 centímetros.
Minha filha, sai de perto da TV! Vai estragar a sua vista!
Se a distância para se notar alguma diferença entre Full HD e Ultra HD em uma TV de 84 polegadas já é pequena, para uma TV de 55 polegadas (tamanho já considerado bem grande para padrões normais) a distância diminui para 1 metro e 6 centímetros. Vá dizer isso pro meu oculista…
Ou seja, seu material produzido profissionalmente em 4K não vai ter vantagem alguma sobre um material produzido profissionalmente em 1080p para um telespectador típico. Isso se o consumidor típico conseguir assistir algo realmente em 4K. O player de 4K da Sony está, por enquanto, limitado ao mercado americano e só serve para aluguel de filmes pela própria empresa. Garanto que nenhuma produção independente faz parte do catálogo deles. E, para espanto geral, a Sony afirmou recentemente que o player não será disponibilizado nem no Reino Unido.
A fonte mais comum de material em Ultra HD consiste em players Bluray que interpolam o material 1080p para UltraHD. Quer dizer, não oferecem vantagem alguma em relação ao FullHD normal.
Portanto, quando algum entusiasta das novidades mais recentes aparecer afirmando que 1080p está obsoleto e que você precisa investir em 4K o mais rápido possível, pois TVs de “4K” já estão sendo postas à venda no mercado, relaxe e curta seu equipamento atual.
Vi um teste comparativo recentemente (infelizmente não guardei o link) onde um usuário da Blackmagic Cinema Camera fez a conversão de 2.5 K para 4K e comparou com imagens da RED filmadas simultaneamente em 4K. Ampliadas em 100%, as imagens da BMCC apresentaram maior definição.
Isso não me causa nenhuma surpresa, pois a qualidade da câmera em si (sem contar fatores mais importantes ainda como lentes , nível profissional da equipe de fotografia, etc.) é muito mais importante que a resolução do formato
Fonte: http://www.videoguru.com.br
Autor: Paulo M. de Andrade
Paulo trabalhou na Rede Globo de Televisão como roteirista, diretor e editor e também escreveu sete longa metragens do grupo Os Trapalhões. Em 1991, abriu uma produtora nos EUA, onde conquistou vários clientes importantes, recebeu diversos prêmios e escreveu centenas de artigos como editor contribuinte para algumas das mais importantes publicações profissionais americanas e internacionais. Hoje Paulo trabalha como colorista para TV e cinema, com clientes no Brasil, Estados Unidos e Europa.